Cálice
Chico Buarque
(refrão)
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
(refrão)
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
(refrão)
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
(refrão)
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguem me esqueça
A letra acima é uma música que Chico Buarque fez em 1973, na época da ditadura militar no Brasil.
Quando se ouve pela primeira vez, pode-se até não perceber o "duplo sentido", mas depois de analisar e entender ficamos maravilhados com a letra.
Para quem ainda não entendeu muito:
•Olhe, por exemplo, o título.
Ele possui dois sentido;O cale-se, de ficar calado(pois na época da ditadora não se podia ir contra o governo, todos tinham que ficar calados), e o cálice de taça( usado nas igrejas) que ele só usou para disfarça a letra contra a ditadura, pois podia ser censurada.
•Observe tambem a frase; " Na arquibancada, pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa"
Essa parte retrata a um ditador que gostava de assistir jogos de futebol na arquibancada, então esse emergir do monstro, se refere a ele, que se levanta na ignorancia do povo da época.
•Agora esse trecho; "De muito gorda a porca já não anda, de muito usada a faca já não corta"
Eles mostram o grande consumismo da sociedade (gorda porca)e a falta de consciência das pessoas.
Alem de a faca poder de referir as espadas e armas usadas pelos ditadores, que de tanto serem usadas (contra o povo) já não "matam" direito.
Essas músicas nos mostram como era difícil a época da ditadura, onde não se tinha liberdade...
Hoje temos e não valorizamos.
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